Madrugada...
é madrugada, mais uma madrugada. Mais um "fim do dia" me aterrorizando e açoitando o meu orgulho. Dentre tantas falhas, tantos “eu
deveria ter feito”, vou me abster somente às falhas quanto ao emagrecimento. Mesmo
com um bumbum sendo visto como uma picanha gorda e suculenta aos olhos dos
homens; e aos olhos das mulheres, sendo visto como dois sacos de banha que podem estourar a qualquer momento e sujar seus scarpin, mesmo diante desta bosta que me
encontro com honra ao mérito, não mudo, não lido com firmeza e disciplina.
Sim, vivo lamentando, e não me resta nada mais que choramingar. Sentimentalmente, estou
com o ego tão dilacerado, que qualquer empregada doméstica imensa e comedora de
gordura e carboidratos é mais gostosa e atraente que eu. Meu cabelo está
péssimo, minha pele então... Ecat! Me sinto suja e fedida, ainda que eu vá tomar
banho agora com sal, água sanitária e sabão. Continuarei sentindo a mim, suja e
fétida! O único consolo que posso vir a aceitar é a magreza, tão somente a
magreza, unicamente, especialmente, gloriosamente a magreza. Qualquer outro
consolo, eu desprezo, repudio. Não passa de um “nãna neném..." Antes a cuca fosse estraçalhá-los!
Antes ocorresse isso, tolos! Fiquem com esse método de apaziguar entre vocês, quero estar fora disso! Me deixe fora disso! É inútil, e justamente
esse “se chorar, neném: Mame” que fez de mim gorda, que fez de mim fraca, que
fez de mim covarde, que fez de mim alguém que não suporta dor, e foge antes de
saber que pode vencer. Agora que sou adulta e tenho uma mãe dentro de mim que
me fragiliza, sou obrigada a vingar de mim mesmo. Sou obrigada a fazer nascer em
mim uma inimiga, a magreza! E é a ela que vou alimentar com o estômago vazio e
a mente farta! Sim, quero ser magra e admiravelmente culta. Quero os meus ossos
à vista! A esperança é magra, o meu sonho é magro, o belo é magro, a liberdade
é magra, o amor é magro, a riqueza é magra, a inteligência é magra (suspirando...
agora respirando como um monge). Sinto paz... Posso dormir então.
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